ANÁLISE #1: Shadow of the Tomb Raider (sem spoilers)

12.9.18

Visual: 9/10 | Áudio: 10/10 | Jogabilidade: 8/10 | Roteiro: 8/10
NOTA FINAL: 8,5/10

Prós:
Trama bem construída e ramificada / Grande beleza visual / Excelente trilha sonora /
Modo furtivo funcional / Foco na exploração

Contras:
Enredo comum / Combate ainda precisa ser melhorado / Modo de rapel nem sempre
funciona bem / Roteiro não trabalha personalidade de Lara Croft

O FIM DO INÍCIO


Há cinco anos atrás, uma das franquias de videogames de maior sucesso iniciava uma nova e ousada jornada. Sob o título Tomb Raider, o nono jogo da franquia principal recomeçava toda a história e apagava tudo aquilo que conhecíamos da famosa arqueóloga . Neste reinício, uma Lara Croft inexperiente precisa usar suas habilidades de sobrevivência em uma ilha mítica cheia de desafios, sendo levada ao limite de suas motivações. O resultado: um dos jogos mais premiados da franquia, se tornando um grande sucesso de público e crítica.

A sequência, Rise of the Tomb Raider, funciona como uma espécie de transição da Lara Croft inexperiente para uma protagonista mais madura e determinada (cega em suas vontades). Neste, é notável a melhoria dos gráficos e de sua jogabilidade - que se torna aqui mais completa. Porém, é de se perceber que segue-se os mesmos moldes de trama e mecânica de seu antecessor. No enredo, Lara fica obcecada em desvendar os maiores mitos da humanidade e numa corrida contra a organização Trindade, ela se vê dividida entre satisfazer suas próprias determinações ou impedir que a organização faça uso da imortalidade em questão.

O MAIOR JOGO DA FRANQUIA?

Para terminar esta trilogia de origem, foi-se mais além. Shadow of the Tomb Raider não só finaliza esta nova etapa da história de Lara Croft, como também serve para trazer um novo estilo à franquia. Ao contrário dos anteriores, a produtora Crystal Dynamics agora atua apenas como um meio de suporte, deixando que o desenvolvimento principal ficasse nas mãos da Eidos Montréal. Esta investiu fortemente no jogo, tornando-se o maior projeto da produtora até então.


O resultado é visível: temos aqui o maior e mais bem elaborado jogo da franquia. Enquanto que os outros dois focassem no combate, na história de origem da personagem e na sobrevivência, este vai muito mais além, focando na exploração e numa trama ramificada, que deverá culminar em uma decisão pessoal de quem Lara Croft deve se tornar. Possuindo os maiores hubs da franquia, é fácil se perder em tantos elementos passíveis de exploração, com missões e tumbas secundárias, relíquias e documentos interessantíssimos espalhados em todos os grandiosos cenários. Tudo isso, sem deixar de lado o crescimento interno da protagonista.

CONFLITOS INTERNOS E EXTERNOS

Afinal, quem é Lara Croft e o que suas experiências mortais a fizeram se tornar? Uma arqueóloga fria e calculista, que é capaz de fazer o que for preciso para atingir os seus objetivos? Em Shadow of the Tomb Raider essas perguntas são feitas à todo tempo. Existem conflitos internos nessa Lara, questionando-a sobre quem ela deveria se tornar. Enquanto que em Tomb Raider (2013) ela se vê como uma sobrevivente e em Rise of the Tomb Raider como uma pessoa focada em um só objetivo, neste ela tentar consertar alguns de seus erros, mas pende para o seu lado vingativo - ficando nessa montanha-russa de sentimentos e até de personalidade. Para que o público se simpatize com ela, conhecemos mais do seu passado e de sua problemática família (os momentos na Mansão Croft são bem especiais). Seu pai continua sendo o centro do desenrolar da história, num enredo que muito se assemelha ao do primeiro filme baseado nos games, Lara Croft: Tomb Raider (2001). Os diálogos estão mais maduros e centrados nos personagens, aproximando-nos também de Jonah - que aqui está ainda mais carismático.


É impossível deixar de mencionar o crescimento de Camilla Luddington (Lara Croft) como atriz. Neste jogo, ela está ainda mais expressiva e seus diálogos com seu amigo Jonah (Earl Baylon, que também se supera aqui) trazem pesos significativos em suas ações. É visível que a atriz se entregou de corpo e alma ao papel, dando vida à Lara Croft mais complexa da franquia (e, também, a mais feroz da trilogia). A versão brasileira infelizmente não chega no mesmo patamar, trazendo problemas de sincronia com o vídeo. Em alguns momentos o ritmo das falas não condizem com a cena, acabando com a emoção e o peso de alguns diálogos. Por esses problemas, a dica é jogar no áudio original, com legendas em nosso idioma (que foram muito bem traduzidas).


No desenrolar da jogatina, percebemos que não só a protagonista tem conflitos, mas a maioria dos personagens e cidades que conhecemos. A belíssima cidade oculta Paititi te leva à uma experiência única, repleta de segredos e missões secundárias, que ramificam o enredo e trazem aprofundamento da cultura e costumes locais. A grandiosidade da produção, então, fica exclusiva à esta cidade. Enquanto que a campanha principal é bem curta e outros cenários possuem locais limitados e bem lineares, a Cidade Oculta abriga grandes momentos do enredo e explora o máximo de seu elevado nível gráfico, transportando-nos em uma trama interessantíssima e nunca vista antes em toda a franquia.

GRÁFICOS MELHORAM, LARA CROFT É MODELO E NÓS FOTÓGRAFOS


Os gráficos de "Shadow" melhoraram desde Rise of the Tomb Raider, mas não espere uma melhora tão significativa. A diferença é que o novo jogo não só traz cenários grandiosos e minuciosamente elaborados, como também possui ambientes claustrofóbicos e bem escuros. Essa escuridão, aliás, pode incomodar em alguns pontos, onde fica bem difícil seguir jogando sem enxergar quase nada (a lanterna de Lara acende-se automaticamente e não manualmente pelo jogador - como acontece em Tomb Raider: Legend, por exemplo. A iluminação, de qualquer forma, é fabulosa, explorando ao máximo os contrastes da luz solar, do fogo se mexendo, das sombras e do reflexo em locais molhados.

Um dos recursos mais interessantes é o Modo Fotográfico (Photo Mode), que permite explorar e capturar momentos belíssimos durante o jogo. Nele, é possível movimentar o campo de visão, alterar a profundidade da imagem, adicionar filtros, mudar a expressão facial da Lara e vários outros recursos, que te darão a oportunidade de participar de um concurso feito pela produtora ou apenas guardar seus momentos preferidos.

VELHOS HÁBITOS RETORNAM E NOVOS SURGEM


A melhor decisão feita para o último capítulo desta trilogia é, sem dúvidas, sobre a configuração dos modos de dificuldade. É possível personalizar ao gosto do jogador o nível de dificuldade do combate, da exploração e dos enigmas (estes bem presentes neste capítulo). Pensando que, no modo de combate, o furtivo (existe uma gama de ataques muito maiores e extremamente divertidos) é o mais funcional, já que os momentos de ação e combate nesta trilogia nunca foram dos melhores, é interessante escolher deixá-lo no modo "fácil" ou "normal", focando-se mais no explorar e no desvendar dos enigmas. Neste modo, é muito fácil comparar aos jogos clássicos, o que por si só já é um grande ganho para os fãs de longa data.

Outra adição muito bem vinda é a do modo "rapel". Afinal, quem é que não gosta de descer numa corda e se balançar para atingir plataformas mais distantes? Quase ninguém, mas vale a lembrança... Desde muito antes, os fãs já estavam acostumados com a possibilidade de escalada com cordas, que ficou mais elaborada em Tomb Raider: Legend. Em Shadow of the Tomb Raider, porém, é visível que há muito o que melhorar neste quesito, já que em muitos momentos, a personagem não obedece os comandos do jogador, levado à morte certa.


Ambientes subaquáticos agora são maiores e apresentam ameaças reais. A furtividade também é explorada debaixo d'água, quando enfrentamos cardumes ferozes de piranhas, das quais é preciso se esconder para não ser devorado em instantes. A claustrofobia também é muito presente nestes cenários e trazem momentos extremamente tensos.

As habilidades de Lara Croft estão mais complexas e são atualizadas de muitas formas distintas. Somando pontos de experiência (XP), se obtém pontos de habilidades necessários para desabilitar novidades no combate e na exploração, como acontece nos anteriores. Mas não para por aí. Nos pontos de acampamento, é possível alterar a roupagem da Lara, cada qual com elementos que trazem melhorias nessas habilidades. Essas melhorias também são adquiridas em comerciantes espalhados pelos ambientes principais e também podem ser moldadas por nós mesmos, com elementos encontrados nos cenários.

ARTE PARA OS OLHOS, MÚSICA PARA OS OUVIDOS



Enquanto que o visual nos deixa admirados, os efeitos sonoros dão conta de nos transportar para dentro de seu ambiente. A trilha sonora, desta vez composta por Brian D'Oliveira, tem elementos tribais e batidas com uma energia tão intensa, que se ouvi-las posteriormente é impossível não se lembrar dos melhores momentos do jogo. São faixas que se encaixam perfeitamente ao enredo e merecem ser ovacionadas pela complexidade e regionalidade colocada em cada nota. As músicas regionais colocadas nos cenários do Peru foram muito bem escolhidas.

O MELHOR JOGO DA TRILOGIA?


Vemos aqui uma Lara Croft mais destemida, feroz e que acredita mais em seu potencial, possibilitando-nos um frescor de novos movimentos e habilidades para explorar e apresentando alguns dos momentos mais icônicos da franquia. Mesmo com um enredo já bem conhecido pela base de fãs, com um final fraco e um pouco decepcionante, a trama bem elaborada, suas pequenas histórias ramificadas, os grandiosos cenários e os vários elementos de exploração são essenciais para apresentar o maior jogo desta trilogia de origem e, não fosse o roteiro, possivelmente o melhor. Infelizmente, não vemos uma Lara Croft 100% decidida e sua personagem não é tão bem trabalhada quanto no primeiro reboot. A esperança de ver a velha arqueóloga futuramente deve ficar cada vez mais distante...

Jogo analisado na versão para Playstation 4, com cópia cedida pela Square Enix.

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